Vortex

Life with film, film about life, life after film and film after life. At first glance, Noé’s departure from conceptual games with genres, form and film as a sensory attack aimed at the realms of Bergman and Haneke is unexpected but, at its core and in accordance with its subject matter, unavoidable. Though the topic changes, the creative signature and motifs remain unmistakable. Noé continues to crush viewers, only this time not so much by playing games with the material and medium of film as by mercilessly bringing the end of life to the audience’s attention. If Noé, being true to his youthful and rebellious nature, had previously shown us life as a fleeting dream and an extreme experience, this time he reveals its end as a spiral between a helpless wakefulness and a kindly nightmare that brings everything that came before to the final fade-out. (21/08/2021)

A real-time documentary odyssey about aging and dying in an uncompromising performance by a controversial filmmaker who isn't afraid to push the envelope and doesn't flinch at moments when others would be cutting and turning their cameras away so that the viewer has to "guess" the rest. Gaspar Noe conveys a complex experience in a different style that suits some, while others will walk out during the screening. Vortex is not about seeing it more than once, it's about experiencing it in the cinema just once, even though it's very difficult, even unbearable at times. (22/08/2021)

Desta vez, Gaspar Noé abandonou as delícias visuais e a fúria estroboscópica e trouxe para o grande écrã uma história humana bastante convencional sobre o sofrimento dum homem idoso e a perda de forças. Infelizmente, depois de Love de Haneke e também do recente, emocionalmente esmagador, The Father, Vortex dá a impressão de levar areia para a praia, e isso apesar da sua abordagem autoral com uma específica divisão do écrã em duas vistas. Ainda pior, é também um filme muito cansativo que às vezes hesita demasiado e é muito mais longo do que lhe convinha. Tenho de admitir que há muito tempo não assistia a um filme tão exaustivo. Se apenas uma centena dos vossos cabelos ficar grisalho após a projeção de Vortex, ainda estão bem. Eu tenho sentimentos contraditórios em relação ao filme, mas se posso afirmar algo com segurança é o facto do lendário realizador Dario Argento ser um ator com um talento natural que alguém já devia ter escolhido para um papel importante há muito tempo. [KVIFF 2021] (24/08/2021)

Vortex é um ligeiro afastamento do trabalho anterior do provocador visualmente idiossincrático Gaspar Noé - a forma criativa autoral utilizando divisão de imagem e subdivisões distintas na edição permanecem, mas, em termos de conteúdo, a extrema selvageria e vivacidade foi substituída por uma lentidão mortal, indo de mãos dadas com a história da vida e morte inquietas de dois cônjuges seniores, um dos quais já passou alguns anos após um ataque cardíaco e o outro cada vez mais sucumbindo à doença de Alzheimer. Para alguns, pode ser um filme original de terror artístico que retrata de forma naturalista a última fase da vida sem fugir mesmo dos momentos mais cruéis (com grandes desempenhos de atuação), mas, por outro lado, é também desesperadamente deprimente, terrivelmente longo, e insuportavelmente aborrecido pela sua fixação aos intermináveis tropeções dos dois personagens principais nos locais interiores do seu complexo apartamento. Noé realizou o seu sonho, dando papel ao famoso realizador italiano Dario Argento e adaptando o estilo de cor à natureza da sua obra, mas depois o outro aspeto notável é a câmara, tomando a mesma história a partir de duas perspetivas diferentes que tem de observar ao mesmo tempo. A combinação de tudo isto pode evocar em si os sentimentos angustiantes de um reformado indefeso e doente no fim da sua vida, mas neste caso a morte é, acima de tudo, uma libertação para o espetador. (24/08/2021)

Two eyes of the glassy gaze of old age, to which illness has flattened life into a thin surface without the depth of the field of the past and future, completely adhering to the technique of dual projection onto a screen, whose flatness at the level of the media is coextensive with the targeted content of the work, which is increasingly dulled and emptied staring into the eyes of death, and where the extension of cinematic time only timidly reminds us of the actual length of the real final countdown, of which both cinematic eyes can tell us nothing new, precisely because the eyes of the film are the eyes of its protagonists. Where there is no past and future, there can fortunately never be a conventional entertaining plot, and so the viewer can truly only wait for liberation along with the characters. That is also the contribution of Noé's film, that through the split screen, which is not just an end in itself, he allowed, at the core of a conventional dramatic film, one eye to peek at the techniques of direct cinema, and thus get closer to the documentary reality through fiction. (01/09/2021)