Oppenheimer

Grande filme sobre a vida de um físico teórico e o pai da bomba atómica não é tanto um drama biográfico clássico, mas sim um thriller político dramático modernista, no qual duas linhas narrativas se alternam através de várias linhas temporais. Um desfile informativo de personagens ambiciosos, inteligentes e intrigantes e diálogos inteligentes, que não dá espaço para respirar, além de ser filmado com uma intensa força cinematográfica. Um filme dinâmico e enérgico, com uma estrutura impressionantemente entrelaçada, construída em torno do confronto entre dois homens egoístas e da história da luta de um cientista pela salvação da sua própria alma, levanta questões relacionadas à transformação da civilização após a invenção da arma nuclear, à ética do seu uso e à disposição das pessoas em arriscar a destruição do mundo em nome da glória ou dominação, o que tem um significado relevante até os dias de hoje. (04/01/2024)

Christopher Nolan, no seu filme mais maduro e menos para o público, atraiu e impressionou com três horas de conversa sobre física nuclear e política. Um público de todos os níveis de educação e inteligência. Parabéns. Conseguir filmar em 57 dias um mosaico de acontecimentos tão concentrado, com uma direção de atores perfeita, repleto de informação e cuidadosamente construído, que nem por um momento deixa de ser interessante ou historicamente credível, é a mestria de um realizador. O facto de Nolan ter sido ajudado por um tema que afeta e aterroriza a todos não é um suporte de ajuda. Qual outro realizador teria dado mais força a este tema? É verdade que a intensidade e a urgência da narrativa do filme são estimuladas pela banda sonora mais uma vez ruidosamente misturada do mágico Ludwig Göransson (Tenet), no entanto, a originalidade e a criatividade nos pormenores fazem dela uma obra autónoma digna de admiração. Caracterização genial das personagens, edição, elenco de atores que não esperaríamos encontrar aqui e que, no entanto, se encaixam perfeitamente (Benny Safdie rulez!). E aquelas duas cenas-chave, construídas sem utensílios digitais em elementos básicos de cinema, são um deleite absoluto. Imediatamente após o final do filme, fiquei com sentimentos contraditórios, esperando algo diferente, provavelmente como todos nós. Mas Oppenheimer cresce em mim com o tempo e estou contente por Nolan o ter feito «à sua maneira». (16/08/2023)

Two commissions, two ambivalent narcissists and a lot of tensions, things left unsaid and affecting history. Unexpectedly emotional and working with characters for a Nolan film. Spectacular in all its intimacy, transparent in all the time-playing frenzy of characters, names, and events. Three hours of dialogue condensed into what feels like a much shorter running time. The tangibility of it all, the acting, Göransson's score, the editing... Everything is at the highest bar, but that's no the reason to love it. The reason is how it totally nails it, how it grapples the issue in an unscholarly way asking the big questions of life, and how damn good it is as a film. (28/07/2023)

Nolan is the Dr. Manhattan of contemporary Hollywood. And perhaps will be for another two decades at least. At the peak of his creative powers, he can afford a three-hour conversation colossus, which subjectively lasts a third less, because the level of precision of all creative components is on an absolute level. Actually, even the most coveted gold-plated statue is completely understandable. And yet something is missing. Perhaps a bit of personal passion in front of and behind the camera. Without hesitation, however, this is the only film by the director that I know I will probably never watch again. PS: Sex in the interrogation room is probably the biggest cringe moment in Nolan's filmography. No debate about it. (24/03/2024)

I went to the cinema thinking that Christopher Nolan wouldn't make just a biopic. Well, it's basically a biopic for at least the first hour and a half. A bit more playful in terms of working with time planes, but above all, it's audiovisually imaginative and engaging in a way that all those academy-praised films like The Theory of Everything have little chance of capturing my attention anymore. Moreover, Nolan switches gears a little bit in the middle and starts to play a lot more with individual plot lines as well as genres, so that after the more daringly conceived biopic (which looks great in IMAX), Oppenheimer turns into a horror film at times, a psychological drama at others, and isn't afraid to be a courtroom thriller that even Aaron Sorkin would applaud. It's a bit of a shame that Nolan doesn't have more faith in his audience and always ends regurgitating what might seem a bit complex for the unfocused into a few sentences. I'd certainly have liked it if he'd pushed the line about the responsibility of scientists more and generally gone more in depth with the main character himself, but those are just small things. I was entertained by Oppenheimer for the entire three hours, whether Nolan was playing with image, sound, pacing and genres, or sticking to more traditional storytelling techniques, and just spicing them heavily with his audiovisual mastery. (19/07/2023)